6 de fevereiro de 2013
OUVIR
Ouvir e o mais antigo e talvez o mais poderoso instrumento de cura.Com freqüência,e
pela qualidade do modo como ouvimos e nao pela sabedoria de nossas palavras que conseguimos efetuar as mudanças mais profundas nas pessoas que nos cercam.Quando ouvimos,oferecemos com nossa atenção uma oportunidade para a integridade.Nossa atenção cria um santuário para as partes sem lar que existem dentro da outra pessoa.As que foram negadas,desprezadas,desvalorizadas por ela mesma e pelos outros.
As que estão ocultas.
Nesta cultura,a alma e o coração com freqüência ficam sem lar.
Ouvir cria um silencio sagrado.Quando você escuta generosamente as pessoas,elas podem ouvir a verdade em si mesmas,mesmo que pela primeira vez.E no silencio de ouvir você pode conhecer a si mesmo metida pessoa.Por fim,você pode acaba sendo capaz de ouvir,métodos as pessoas e além de cada uma,o oculto cantando baixinho para si mesmo e para você.
RACHEL NAOMI REMEN
Historias que curam
Conversas ao pé do Fogao
21 de janeiro de 2013
O SONO DO FILHO
Outro dia relendo livros,encontrei em um deles um trecho que falava da morte,na visão de uma criança. É a história de um menininho que voltava da escola com os colegas,dizendo:
- Eu não quero morrer,não,porque morrer deve ser a pior coisa do mundo: quando uma pessoa morre,eles colocam dentro de um caixão,tampam e jogam para debaixo da Terra.
O outro falou:
- Não! Eu escutei na Canção Nova que,quando a gente morre,se estivermos com Jesus,iremos para o céu.
- Não vai não,rapaz.Depois de morto,como você vai para o céu ?
O menininho pensou e falou:
-Alguma vez você já dormiu no sofá?
-Já.
-Quando você acordou no dia seguinte,você estava no sofá?
- Não,eu estava na minha cama.
- Como é que você pode ter ido para a cama se estava dormindo?
-Ah,meu pai ou minha mãe me pegaram dormindo no colo e me levaram para o quarto.
-Então,bobão, Jesus ensinou que quando morremos ficamos naquela caixão dormindo.Enquanto isso,o Pai vem,nos pega no colo e nos põe no céu.
Jesus veio nos dizer que nossa vida está escondida no coração do Pai."EU VOU PARA O PAI PREPARAR UM LUGAR PARA VOCÊ".É como a mãe que entra no quarto,arruma a cama,estica o lençol,mata os pernilongos,põe uma cortina,enquanto isso o pai pega a criança que dormiu no sofá,deita-a ali na cama e lhe dá um beijo.Ás vezes,quando o pai pega a criança,ela acorda,mas finge que está dormindo.O pai a deita na cama e lhe dá um beijo.
Essa historinha me dá uma certa tranquilidade com relação a morte: me tranquilizo pensando no dia em que "dormirei no sofá",e "alguém" vai me pegar no colo e "me levar pra um lugar melhor".Afinal de contas,estamos trabalhando pra isso
Trecho retirado do livro :"Buscai as coisas do alto",do Padre Leo.
Imagem: Não identifiquei o autor.
4 de agosto de 2010
QUINDINS NA PORTARIA
QUINDINS NA PORTARIA
Martha Medeiros
Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio de Mário Quintana: "Para estar ao lado sem pesar com a presença". Há outras histórias e poemas interessantes no livro, mas me detive nesta frase porque não pesar aos outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura.
Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa. Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados.
Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone.
Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho.
Pessoas estão jantando.
Pessoas estão preocupadas.
Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo.
Pessoas estão chorando.
Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando.
Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los, sabendo que nada interromperei do lado de lá.
Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade.
Dizemos pelo computador coisas que, face a face, seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo?
Nem se discute que o encontro é sagrado.
Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios.
Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela.
Quando mando flores, vou junto com o cartão.
Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço.
Texto : Martha Medeiros
Martha Medeiros
Estava lendo o novo livro do Paulo Hecker Filho, Fidelidades, onde, numa de suas prosas poéticas, ele conta que, antigamente, deixava bilhetes, livros e quindins na portaria do prédio de Mário Quintana: "Para estar ao lado sem pesar com a presença". Há outras histórias e poemas interessantes no livro, mas me detive nesta frase porque não pesar aos outros com nossa presença é um raro estalo de sensibilidade.
Para a maioria das pessoas, isso que chamo de um raro estalo de sensibilidade tem outro nome: frescura.
Afinal, todo mundo gosta de carinho, todo mundo quer ser visitado, ninguém pesa com sua presença num mundo já tão individualista e solitário.
Ah, pesa. Até mesmo uma relação íntima exige certos cuidados.
Eu bato na porta antes de entrar no quarto das minhas filhas e na de meu próprio quarto, se sei que está ocupado.
Eu pergunto para minha mãe se ela está livre antes de prosseguir com uma conversa por telefone.
Eu não faço visitas inesperadas a ninguém, a não ser em caso de urgência, mas até minhas urgências tive a sorte de que fossem delicadas.
Pessoas não ficam sentadas em seus sofás aguardando a chegada do Messias, o que dirá a do vizinho.
Pessoas estão jantando.
Pessoas estão preocupadas.
Pessoas estão com o seu blusão preferido, aquele meio sujo e rasgado, que elas só usam quando ninguém está vendo.
Pessoas estão chorando.
Pessoas estão assistindo a seu programa de tevê favorito.
Pessoas estão se amando.
Avise que está a caminho. Frescura, jura? Então tá, frescura, que seja.
Adoro e-mails justamente porque são sempre bem-vindos, e posso retribuí-los, sabendo que nada interromperei do lado de lá.
Sem falar que encurtam o caminho para a intimidade.
Dizemos pelo computador coisas que, face a face, seriam mais trabalhosas.
Por não ser ao vivo, perde o caráter afetivo?
Nem se discute que o encontro é sagrado.
Mas é possível estar ao lado de quem a gente gosta por outros meios.
Quando leio um livro indicado por uma amiga, fico mais próxima dela.
Quando mando flores, vou junto com o cartão.
Já visitei um pequeno lugarejo só para sentir o impacto que uma pessoa querida havia sentido, anos antes. Também é estar junto.
Sendo assim, bilhetes, e-mails, livros e quindins na portaria não é distância: é só um outro tipo de abraço.
Texto : Martha Medeiros
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10 de julho de 2010
O CASAMENTO E A SOLIDÃO CRIATIVA
O poeta Rilke escreveu que "o companheirismo entre duas pessoas ...priva um ou ambos os parceiros de sua liberdade e desenvolvimento mais completos". Ele acreditava que "uma vez que se aceite que mesmo entre os seres mais íntimos continuem a existir infinitas distâncias, passa a ser possível desenvolver uma maravilhosa convivência , um ao lado do outro", tendo essa distância entre eles "como um pano de fundo, um imenso firmamento, contra o qual enxergarão o outro por inteiro !" Assim , em sua visão, que foge ao convencional, "bom casamento é aquele que cada um dos dois nomeia o outro como guardião de sua solidão"
Em solidão, podemos trancar o mundo para fora e ficar face a face com nossas necessidades e sentimentos mais profundos. Podemos pensar melhor, mais a fundo, podemos reagrupá-los , nos recuperar de nossas decepções e mágoas, cicatrizar nossas feridas. A solidão pode servir como nosso refúgio, onde rebuscamos em nosso interior o espaço que nos permita descobrir e desenvolver novas faces de nós mesmos. Conforme Anthony Storr aponta, em seu profundo livro Solidão, até o melhor dos relacionamentos tem defeitos ;portanto, poderíamos ser menos exigentes com nosso casamento ( e consequentemente, menos insatisfeitos com ele ) se procurássemos - por intermédio do uso criativo da solidão - fontes suplementares de realização
A solidão nos permite viver uma parcela de nossas vidas à parte de nossos parceiros. Da mesma forma que ocorre com outros tipos de separação , ocasiões em que escolhemos usar o nosso tempo livre ( por exemplo, quando as crianças são mais crescidas ) para trabalhar fora, para fazer trabalho voluntário, visitar um amigo ou fazer um curso de arte.
Viver junto cotidianamente, com um mínimo de dignidade, exige, dentre muitos outros requisitos, encontrar o equilíbrio entre companheirismo e isolamente. Ser honesto, sem exagerar na dose. Ficar à vontade, solto, autêntico , sem ser desleixado. Também aceitar a incessante marcha rotineira da vida conjugal, percebendo paralelamente , quanto ela é doce, quanto é muito doce, quanto é incrivelmente doce.
Trecho retirado do livro: CASAMENTO PARA TODA A VIDA, de Judith Viorst
Em solidão, podemos trancar o mundo para fora e ficar face a face com nossas necessidades e sentimentos mais profundos. Podemos pensar melhor, mais a fundo, podemos reagrupá-los , nos recuperar de nossas decepções e mágoas, cicatrizar nossas feridas. A solidão pode servir como nosso refúgio, onde rebuscamos em nosso interior o espaço que nos permita descobrir e desenvolver novas faces de nós mesmos. Conforme Anthony Storr aponta, em seu profundo livro Solidão, até o melhor dos relacionamentos tem defeitos ;portanto, poderíamos ser menos exigentes com nosso casamento ( e consequentemente, menos insatisfeitos com ele ) se procurássemos - por intermédio do uso criativo da solidão - fontes suplementares de realização
A solidão nos permite viver uma parcela de nossas vidas à parte de nossos parceiros. Da mesma forma que ocorre com outros tipos de separação , ocasiões em que escolhemos usar o nosso tempo livre ( por exemplo, quando as crianças são mais crescidas ) para trabalhar fora, para fazer trabalho voluntário, visitar um amigo ou fazer um curso de arte.
Viver junto cotidianamente, com um mínimo de dignidade, exige, dentre muitos outros requisitos, encontrar o equilíbrio entre companheirismo e isolamente. Ser honesto, sem exagerar na dose. Ficar à vontade, solto, autêntico , sem ser desleixado. Também aceitar a incessante marcha rotineira da vida conjugal, percebendo paralelamente , quanto ela é doce, quanto é muito doce, quanto é incrivelmente doce.
Trecho retirado do livro: CASAMENTO PARA TODA A VIDA, de Judith Viorst
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7 de julho de 2010
NOSSO SENTIDO DE UTILIDADE
Nossas relações humanas são fortemente marcadas pelas regras da utilidade. Somos o que fazemos. Boa parte do nosso tempo é investido em nosso aprimoramento técnico, profissional. Coisas que estão ligadas ao nosso desempenho como profissionais.
O grande problema não é investir no aprimoramento técnico, mas sim em não saber viver as transições naturais do processo da vida. Não seremos eternamente jovens, competentes e úteis. Haverá um momento em que alguém nos substituirá, porque cumprirá melhor as exigências do que fazemos.
Chegará o momento em que teremos que sair de cena. É nesta hora que precisamos assumir uma outra forma de competência. Teremos que lidar com nossa inutilidade e esbarrar em nossa humanidade, sem os atrativos de tudo o que foi útil em nós.
Será o tempo de redescobrir os significados antigos, as coisas para as quais não tivemos muito tempo , mas que condensam possibilidades bonitas que precisamos explorar.
Quando pautamos nossa vida a partir de nossa utilidade, corremos o risco de nos desprender de nossos verdadeiros significados. É muito comum as pessoas se ocuparem de constantes aperfeiçoamentos técnicos. Mas é raro encontrar pessoas cuidando do futuro a partir de outras preocupações, como o cultivo de laços fecundos .
Precisamos, ao longo da vida, fazer-nos a pergunta cruel : Depois que perdermos a utilidade, quem vai querer continuar ao nosso lado ? Será que estamos bem posicionados entre os horizontes da utilidade e os horizontes do significado ?
Texto retirado do livro : QUANDO O SOFRIMENTO BATER A SUA PORTA
O grande problema não é investir no aprimoramento técnico, mas sim em não saber viver as transições naturais do processo da vida. Não seremos eternamente jovens, competentes e úteis. Haverá um momento em que alguém nos substituirá, porque cumprirá melhor as exigências do que fazemos.
Chegará o momento em que teremos que sair de cena. É nesta hora que precisamos assumir uma outra forma de competência. Teremos que lidar com nossa inutilidade e esbarrar em nossa humanidade, sem os atrativos de tudo o que foi útil em nós.
Será o tempo de redescobrir os significados antigos, as coisas para as quais não tivemos muito tempo , mas que condensam possibilidades bonitas que precisamos explorar.
Quando pautamos nossa vida a partir de nossa utilidade, corremos o risco de nos desprender de nossos verdadeiros significados. É muito comum as pessoas se ocuparem de constantes aperfeiçoamentos técnicos. Mas é raro encontrar pessoas cuidando do futuro a partir de outras preocupações, como o cultivo de laços fecundos .
Precisamos, ao longo da vida, fazer-nos a pergunta cruel : Depois que perdermos a utilidade, quem vai querer continuar ao nosso lado ? Será que estamos bem posicionados entre os horizontes da utilidade e os horizontes do significado ?
Texto retirado do livro : QUANDO O SOFRIMENTO BATER A SUA PORTA
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23 de junho de 2010
CHORAR JUNTO
Vou contar-lhes uma história da qual eu gosto muito: a de um menino pequeno cuja mãe mandou-ou fazer algo na rua e ele demorou muito para voltar.
Quando finalmente regressou, a mãe perguntou-lhe :
- Onde você estava ? Fiquei preocupada.
E o menino respondeu :
- Encontrei um menino da vizinhança com a bicicleta quebrada e que chorava porque não podia consertá-la.Fiquei triste e parei para ajuda-lo.
A mãe perguntou :
- E você sabe consertar uma bicicleta ?
O menino respondeu :
- Não, mas me sentei junto a ele e ajudei-o a chorar.
Quando as coisas estão quebradas e ninguém consegue consertá-las , há sempre algo que podemos fazer : sentar e ajudar os outros a chorar , para que não chorem sozinhos.
Trecho retirado do livro
"QUANDO AS COISAS RUINS ACONTECEM AS PESSOAS BOAS", de Harold Kushner
Quando finalmente regressou, a mãe perguntou-lhe :
- Onde você estava ? Fiquei preocupada.
E o menino respondeu :
- Encontrei um menino da vizinhança com a bicicleta quebrada e que chorava porque não podia consertá-la.Fiquei triste e parei para ajuda-lo.
A mãe perguntou :
- E você sabe consertar uma bicicleta ?
O menino respondeu :
- Não, mas me sentei junto a ele e ajudei-o a chorar.
Quando as coisas estão quebradas e ninguém consegue consertá-las , há sempre algo que podemos fazer : sentar e ajudar os outros a chorar , para que não chorem sozinhos.
Trecho retirado do livro
"QUANDO AS COISAS RUINS ACONTECEM AS PESSOAS BOAS", de Harold Kushner
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16 de junho de 2010
SOBRE RÓTULOS E ASSOMBRO
Um rótulo é uma máscara que a vida usa.
Usamos rótulos na vida o tempo todo. "CERTO" , "ERRADO", "SUCESSO", "FRACASSO","SORTE", "AZAR" podem ser modos tão limitantes de ver as coisas quanto "diabético", "epiléptico", "maníaco-depressivo" ou mesmo "inválido" . Colocar rótulos determina uma expectativa de vida muitas vezes tão imperiosa que não conseguimos mais ver as coisas como elas realmente são. Essa expectativa, com frequência, nos dá um senso de familiaridade falso com relação a alguma coisa que , na verdade , é nova e sem precedentes. Estamos num relacionamento com nossas expectativas , e não com a própria vida.
E isso nos faz pensar que podemos ser tão prejudicados pelo modo como vemos uma doença quanto pela própria doença. A crença nos prende ou nos liberta. Os rótulos podem transforma-se em profecias que se cumprem só porque foram feitas. Estudo sobre mortes no vodu indicam que , em certas circunstâncias , a crença pode até matar.
Talvez precisemos levar muito menos a sério nossos rótulos e até mesmo nossos especialistas. Alguns anos atrás , fiz parte da banca examinadora da tese de uma mulher do meio-oeste que estava estudando a remissão espontânea do câncer. Entre os que responderam a seu anúncio no jornal procurando pessoas que achavam ter tido uma experiência de cura incomum, estava um agricultor que obtivera ótimos resultados apesar de um prognóstico muito sombrio . Uma noite, por telefone , ela me contou sobre esse homem. Julgava que os resultados que ele conseguira estivessem ligados à sua atitude. "Ele não aceitou", disse ela.
Confusa, perguntei se ele havia negado que tinha câncer. Não, ela respondeu , não negara . Simplesmente ele adotara quanto ao prognóstico do médico a mesma atitude que tinha para com as palavras dos peritos do governo que analisavam o solo de seus campos. Como eram homens instruídos , ele os respeitava e ouvia atentamente enquanto lhes mostravam os resultados de seus testes e lhe diziam que o milho não cresceria naquele campo. Ele levava em conta as opiniões apresentadas. Porém , como contou à minha aluna, "boa parte do tempo o milho cresce mesmo assim".
Pela minha experiência, um diagnóstico é uma opinião , e não uma previsão . Como seria se mais pessoas aceitassem a presença do desconhecido e acolhessem as palavras de seus especialistas médicos da mesma maneira ? O diagnóstico é câncer. O que isso irá significar ainda veremos.
Assim como um diagnóstico , um rótulo é uma tentativa de assegurar o controle e administrar a incerteza. Ele pode nos dar a segurança e o conforto de uma conclusão mental e nos encorajar a não pensar mais no assunto. Mas a vida nunca chega a uma conclusão ; a vida é processo , até mesmo mistério. A vida só é conhecida por aqueles que encontraram um meio de estar à vontade com mudança e com o desconhecido. Considerando a natureza da vida, pode não existir segurança, mas apenas aventura.
Trecho retirado do livro HISTÓRIAS QUE CURAM, de Rachel Naomi Remen
Usamos rótulos na vida o tempo todo. "CERTO" , "ERRADO", "SUCESSO", "FRACASSO","SORTE", "AZAR" podem ser modos tão limitantes de ver as coisas quanto "diabético", "epiléptico", "maníaco-depressivo" ou mesmo "inválido" . Colocar rótulos determina uma expectativa de vida muitas vezes tão imperiosa que não conseguimos mais ver as coisas como elas realmente são. Essa expectativa, com frequência, nos dá um senso de familiaridade falso com relação a alguma coisa que , na verdade , é nova e sem precedentes. Estamos num relacionamento com nossas expectativas , e não com a própria vida.
E isso nos faz pensar que podemos ser tão prejudicados pelo modo como vemos uma doença quanto pela própria doença. A crença nos prende ou nos liberta. Os rótulos podem transforma-se em profecias que se cumprem só porque foram feitas. Estudo sobre mortes no vodu indicam que , em certas circunstâncias , a crença pode até matar.
Talvez precisemos levar muito menos a sério nossos rótulos e até mesmo nossos especialistas. Alguns anos atrás , fiz parte da banca examinadora da tese de uma mulher do meio-oeste que estava estudando a remissão espontânea do câncer. Entre os que responderam a seu anúncio no jornal procurando pessoas que achavam ter tido uma experiência de cura incomum, estava um agricultor que obtivera ótimos resultados apesar de um prognóstico muito sombrio . Uma noite, por telefone , ela me contou sobre esse homem. Julgava que os resultados que ele conseguira estivessem ligados à sua atitude. "Ele não aceitou", disse ela.
Confusa, perguntei se ele havia negado que tinha câncer. Não, ela respondeu , não negara . Simplesmente ele adotara quanto ao prognóstico do médico a mesma atitude que tinha para com as palavras dos peritos do governo que analisavam o solo de seus campos. Como eram homens instruídos , ele os respeitava e ouvia atentamente enquanto lhes mostravam os resultados de seus testes e lhe diziam que o milho não cresceria naquele campo. Ele levava em conta as opiniões apresentadas. Porém , como contou à minha aluna, "boa parte do tempo o milho cresce mesmo assim".
Pela minha experiência, um diagnóstico é uma opinião , e não uma previsão . Como seria se mais pessoas aceitassem a presença do desconhecido e acolhessem as palavras de seus especialistas médicos da mesma maneira ? O diagnóstico é câncer. O que isso irá significar ainda veremos.
Assim como um diagnóstico , um rótulo é uma tentativa de assegurar o controle e administrar a incerteza. Ele pode nos dar a segurança e o conforto de uma conclusão mental e nos encorajar a não pensar mais no assunto. Mas a vida nunca chega a uma conclusão ; a vida é processo , até mesmo mistério. A vida só é conhecida por aqueles que encontraram um meio de estar à vontade com mudança e com o desconhecido. Considerando a natureza da vida, pode não existir segurança, mas apenas aventura.
Trecho retirado do livro HISTÓRIAS QUE CURAM, de Rachel Naomi Remen
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