O poeta Rilke escreveu que "o companheirismo entre duas pessoas ...priva um ou ambos os parceiros de sua liberdade e desenvolvimento mais completos". Ele acreditava que "uma vez que se aceite que mesmo entre os seres mais íntimos continuem a existir infinitas distâncias, passa a ser possível desenvolver uma maravilhosa convivência , um ao lado do outro", tendo essa distância entre eles "como um pano de fundo, um imenso firmamento, contra o qual enxergarão o outro por inteiro !" Assim , em sua visão, que foge ao convencional, "bom casamento é aquele que cada um dos dois nomeia o outro como guardião de sua solidão"
Em solidão, podemos trancar o mundo para fora e ficar face a face com nossas necessidades e sentimentos mais profundos. Podemos pensar melhor, mais a fundo, podemos reagrupá-los , nos recuperar de nossas decepções e mágoas, cicatrizar nossas feridas. A solidão pode servir como nosso refúgio, onde rebuscamos em nosso interior o espaço que nos permita descobrir e desenvolver novas faces de nós mesmos. Conforme Anthony Storr aponta, em seu profundo livro Solidão, até o melhor dos relacionamentos tem defeitos ;portanto, poderíamos ser menos exigentes com nosso casamento ( e consequentemente, menos insatisfeitos com ele ) se procurássemos - por intermédio do uso criativo da solidão - fontes suplementares de realização
A solidão nos permite viver uma parcela de nossas vidas à parte de nossos parceiros. Da mesma forma que ocorre com outros tipos de separação , ocasiões em que escolhemos usar o nosso tempo livre ( por exemplo, quando as crianças são mais crescidas ) para trabalhar fora, para fazer trabalho voluntário, visitar um amigo ou fazer um curso de arte.
Viver junto cotidianamente, com um mínimo de dignidade, exige, dentre muitos outros requisitos, encontrar o equilíbrio entre companheirismo e isolamente. Ser honesto, sem exagerar na dose. Ficar à vontade, solto, autêntico , sem ser desleixado. Também aceitar a incessante marcha rotineira da vida conjugal, percebendo paralelamente , quanto ela é doce, quanto é muito doce, quanto é incrivelmente doce.
Trecho retirado do livro: CASAMENTO PARA TODA A VIDA, de Judith Viorst
10 de julho de 2010
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